Português (Brasil)

A síndrome da mulher invisível

A síndrome da mulher invisível

Data de Publicação: 11 de janeiro de 2024 20:14:00 Que vivemos em uma sociedade machista, construída sobre a opressão e o genocídio de mulheres já sabemos.

Compartilhe este conteúdo:

A síndrome da mulher invisível 

Que vivemos em uma sociedade machista, construída sobre a opressão e o genocídio de mulheres já sabemos. Que transformam o feminicídio em crime passional e de honra, nos diminuindo a objetos, também estamos cientes.

O que aterroriza é criar a consciência de como tudo foi formado, suas perpetuações infindáveis que nos condenam a uma vida de eterno sofrimento e apagamento.
A mocidade chega e aquela disputa, famosa entre famílias que vence quem tiver a jovem mais obediente, submissa, prendada, o triunfo é de quem se incumbiu a aniquilar todos os sonhos, desejos e principalmente a identidade daquela que após esse verdadeiro duelo, teve chancelado o seu certificado de invisível, agora ela sabe que seu nome é serventia.  

Aceitação em ser podada, tolhida, proibida, a angústia todo o tempo com o que fala, onde fala, como fala, são forjados em nós. Habituadas com a ausência de desejo, desde a personagem nas redes sociais que não pode postar o que pensa para não trazer escândalo a seu parceiro, até o posicionamento incisivo no ambiente coorporativo em que coloca sua carreira/emprego em risco ou ainda o questionamento em espaços religiosos que lhe tira a santidade e lhe afasta de Deus. Exigem-nos saber sobre tudo, mas não podemos nos expressar sobre nada.

É chegado o dia do despertar, o momento de uma inaugural revolta, mais uma vítima do patriarcado se reconheceu, sangrou por dentro, se culpou, implodiu em desespero, até que antes de curar as feridas os julgamentos chegam como uma bomba nuclear, devastando todo o entorno e impossibilitando a visão.

Não há nada mais bonito do que o despertar de uma mulher que deixou de ser invisível e decidiu explodir em cores, amores, desejos, sonhos e atitudes, a decisão de tornar a sua serventia pra si e romper todas as amarras, afinal, isso não é apenas sobre uma e sim sobre todas.

É chegada a hora de empoderar-se, ter consciência das próprias capacidades, buscar, lutar, conquistar seu lugar na sociedade e inspirar suas semelhantes. Em cada germinar existe a libertação múltipla, ora, que mulher ousaria voar sem pensar que todas precisam ter asas?

Muito se fala em sororidade nos tempos atuais, a palavra rende posts de redes sociais com engajamento, vídeos com milhões de views, mas onde encontrar a prática?

Ainda temos muito  que avançar, mas não podemos mais permitir que toda a nossa luta diária, só ou coletiva pelo direito de existir seja diminuída a uma retórica de que mulheres não se ajudam, não se unem. A tal da “rivalidade feminina” é apenas mais um mecanismo de perpetuação da autocracia para que sejamos todas e em todo tempo invisíveis.

Somos muitas e estamos em todos os lugares, sim, perto de toda mulher que ainda ocupa o lugar de invisibilidade existe uma que floresceu e está disposta na cooperação da construção das asas desse novo ser que precisa surgir. As que ainda esbravejam para que apenas deixemos seu lugar de dor singular imaculado, as que lutam para se manter no lugar de aceitação de seus algozes eu apenas deixo amor e a certeza que nossos braços sempre estarão estendidos para o acolhimento, porque não se trata de uma competição de quem irá renascer primeiro, não estamos aqui para guerrear umas com as outras e sim umas pelas outras. Enquanto uma de nós ainda não puder voar, não seremos verdadeiramente livres!

Colunista:
Pâmela Mello 
@pamelamello_oficial

Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário