Por Pâmela Mello
A Invisibilidade Feminina e a Luta Contra o Apagamento
Vivemos em uma sociedade estruturalmente machista, erguida sobre a opressão e o silenciamento das mulheres. O feminicídio ainda é relativizado como “crime passional” ou “defesa da honra”, reduzindo as vítimas a meros objetos descartáveis.
O mais aterrorizante não é apenas reconhecer esse sistema opressor, mas compreender como ele foi minuciosamente construído e perpetuado ao longo da história. Uma engrenagem invisível e implacável que nos condena a uma existência de sofrimento e apagamento.
A Imposição da Submissão
Desde a juventude, somos submetidas à competição silenciosa entre famílias, onde vence aquela que melhor moldar sua filha para a submissão e a obediência. O prêmio? O certificado de invisibilidade, onde a identidade da mulher é aniquilada e substituída pelo papel de “serventia”.
Esse condicionamento é imposto de maneira cruel: somos ensinadas a nos podar, a nos calar, a nos preocupar com cada palavra, cada gesto. Se falamos demais, somos inconvenientes; se discordamos, somos arrogantes; se nos destacamos, somos julgadas. Nas redes sociais, devemos evitar polêmicas para não “envergonhar” nossos parceiros. No ambiente corporativo, qualquer posicionamento mais firme pode colocar nossa carreira em risco. Nos espaços religiosos, questionar dogmas significa perder a “santidade” e o “contato com Deus”.
O Momento do Despertar
Entretanto, chega um momento em que tudo muda. O despertar de uma mulher é um processo doloroso: primeiro vem a culpa, depois a explosão interna e, por fim, a condenação imposta pela sociedade. O julgamento é como uma bomba nuclear, devastando tudo ao redor e tornando a jornada ainda mais solitária.
Porém, não há nada mais belo do que uma mulher que decide romper as correntes da invisibilidade. Quando ela explode em cores, sonhos, desejos e atitudes, ela não apenas se liberta, mas inspira outras a fazerem o mesmo. Esse é um despertar coletivo. Nenhuma mulher ousa voar sozinha sem pensar em todas as outras que também precisam de asas.
Sororidade: Da Retórica à Prática
Nos tempos atuais, a palavra “sororidade” viraliza nas redes sociais, gerando engajamento e views milionários. Mas onde está a prática? O discurso precisa se transformar em acolhimento real.
Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas não podemos mais permitir que nossa luta diária seja reduzida à ideia de que “mulheres não se ajudam”. A “rivalidade feminina” é um mecanismo de opressão patriarcal, projetado para nos manter divididas e invisíveis.
A verdade é que somos muitas e estamos em todos os lugares. Para cada mulher que ainda vive na sombra, existe outra pronta para estender a mão e ajudá-la a construir suas asas. Algumas resistem ao despertar, presas à ilusão da aceitação social. Para elas, deixamos apenas amor e a certeza de que, quando decidirem voar, encontrarão acolhimento e apoio.
Porque nossa luta não é uma competição para ver quem renasce primeiro. Não estamos aqui para guerrear umas contra as outras, mas sim umas pelas outras. Enquanto uma única mulher ainda for invisível, nenhuma de nós será verdadeiramente livre.