A África do Sul acusou os Estados Unidos de “coerção por ausência” nesta quarta-feira, 19, após o governo de Donald Trump anunciar que não compareceria na cúpula do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, em Joanesburgo, que ocorrerá entre os dias 22 e 23. No final de semana passado, os EUA enviaram uma nota informando que nenhum dos seus representantes seriam enviados à reunião e que não aceitariam qualquer declaração conjunta emitida ao final do encontro.
“A ausência de Washington anula seu papel nas conclusões do G20”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da África do Sul, Chrispin Phiri. “Não podemos permitir que a coerção por meio da ausência se torne uma tática viável. É uma receita para a paralisia institucional e o colapso da ação coletiva.”
Segundo a agência de notícias francesa AFP, o comunicado da Embaixada americana em Pretória adiantava que o país só concordaria com a divulgação de uma “declaração do presidente”, não dos líderes do G20 como um todo. O texto apontava que “as prioridades da África do Sul no G20 contrariam as visões políticas dos EUA”. A África do Sul adotou como tema central “Solidariedade, Igualdade, Sustentabilidade”, com foco em sustentabilidade da dívida para países de baixa renda e no financiamento de uma “transição energética justa”.
“Não podemos apoiar o consenso sobre quaisquer documentos negociados sob sua presidência. Os EUA se opõem à publicação de qualquer documento final da cúpula do G20 sob a premissa de uma posição consensual do G20 sem o acordo dos EUA”, concluiu a nota.
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Trump x Ramaphosa
Os Estados Unidos assumirão a presidência do G20 em 2026 e criticam a expansão do bloco, voltado para questões econômicas globais quando foi criado em 1999. Em resposta à ausência de Trump no evento, presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, disse que não gostaria entregar a presidência a “uma cadeira vazia”.
Ele, contudo, afirmou que “a cadeira vazia estará lá, provavelmente simbolicamente, passando o bastão para aquela cadeira vazia e falando com o Presidente Trump e dizendo: ‘Mesmo que o senhor não esteja aqui, estou lhe passando as rédeas da presidência do G20.’ Porque o G20 como entidade continua, estejam eles aqui ou não”.
Em fevereiro, os Estados Unidos cortaram parte do financiamento à África do Sul. No mês seguinte, Washington declarou o embaixador sul-africano persona non grata e expulsou o diplomata do país. Já em maio, o governo americano concedeu status de refugiado a 59 sul-africanos brancos por supostamente estarem sofrendo perseguição racial e acusou Ramaphosa de cometer “genocídio contra brancos”.