Por Pâmela Mello
Durante a Idade Média, mais precisamente no século XIII, foi criada a Santa Inquisição para condenar e punir aqueles que desafiavam os dogmas da Igreja Católica ou professavam outra crença. Em 1231, o Papa Gregório IX, através de uma Bula Papal, autorizou a caça aos hereges. Dois anos depois, em 1233, uma segunda Bula Papal instituiu oficialmente a Santa Inquisição, também conhecida como o Período das Trevas.
A perseguição atingiu especialmente cientistas, pensadores e filósofos, eliminando o conhecimento e limitando a liberdade intelectual da época. No entanto, as principais vítimas desse sistema opressor foram as mulheres.
O Papel do Livro “O Martelo das Bruxas” na Caça às Mulheres
O livro “O Martelo das Bruxas” (“Malleus Maleficarum”) foi um dos principais instrumentos de perseguição contra as mulheres. Escrito em 1487 por dois inquisidores alemães, Heinrich Kramer e James Sprenger, o livro se tornou um verdadeiro manual da caça às bruxas, sendo publicado mais de 15 vezes. O texto foi dividido em três partes:
- Como identificar e rastrear uma bruxa.
- Os supostos malefícios causados por elas.
- Os métodos de interrogação, julgamento e punição.
A obra legitimou o feminicídio em massa, justificando torturas brutais e execuções de mulheres em nome de Deus e da moralidade cristã.
Quem Era Considerada uma Bruxa?
Durante a Santa Inquisição, qualquer mulher poderia ser acusada de bruxaria por motivos absurdos. Entre as razões estavam:
- Utilização de ervas medicinais.
- Conhecimento sobre alquimia.
- Dançar e cantar em público.
- Ter forte conexão com a natureza.
- Ser inteligente e culta.
- Ter uma plantação próspera.
- Trabalhar como parteira e perder uma criança no parto.
- O marido ser estéril.
Aquelas que eram acusadas enfrentavam torturas inimagináveis e, mesmo quando inocentadas, carregavam sequelas físicas e psicológicas para o resto da vida. As execuções por fogueira eram comuns, transformando o sofrimento feminino em um espetáculo público.
A Inquisição Moderna: A Perseguição Virtual
Embora a Santa Inquisição tenha terminado oficialmente, a perseguição às mulheres ainda persiste sob novas formas. Hoje, vivemos uma “Inquisição Virtual”, onde o linchamento moral ocorre por meio das redes sociais. Mulheres continuam sendo julgadas e atacadas por serem livres, dançarem, expressarem sua sexualidade ou simplesmente se divorciarem e assumirem o protagonismo de suas histórias.
A sociedade, muitas vezes, se escandaliza mais com a independência feminina do que com crimes reais que ameaçam a vida. Ainda há um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade e pelo respeito aos direitos das mulheres. A liberdade feminina, conquistada com tanto sacrifício, continua sendo questionada e combatida por estruturas patriarcais que resistem ao avanço do tempo.
Reflexão Final: O Medo das Mulheres Livres
A perseguição às mulheres ao longo da história é um reflexo do medo que a sociedade tem do poder feminino. Ainda hoje, mulheres precisam lutar para ocupar espaços, se proteger contra violências diversas e garantir sua autonomia.
Como bem resume uma frase emblemática: “A humanidade sempre teve medo das mulheres que voam, sejam elas bruxas, sejam elas livres.”