Em pleno início da Cúpula de Líderes da COP30, em Belém, no Pará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou um artigo em diversos jornais internacionais convocando chefes de Estado a “trocar discursos por ações concretas”.
No texto, o presidente afirma que a conferência de Belém precisa marcar uma virada de página na diplomacia ambiental.
“Se não conseguirmos transformar palavras em resultados tangíveis, nossas sociedades perderão a fé, não apenas na COP, mas em todo o sistema multilateral”, escreveu.
Lula batizou o encontro de “a COP da verdade”, uma referência direta à necessidade dos países comprovarem que seus compromissos com o Acordo de Paris não são apenas simbólicos.
O apelo ecoa o principal temor do governo brasileiro: que a COP30, a primeira sediada na Amazônia, se torne um palco de promessas vazias em meio à desaceleração global do financiamento climático.
Desafios de uma COP decisiva
A conferência, que começa oficialmente em 10 de novembro, ocorre num cenário de tensões crescentes. A guerra na Ucrânia, o retorno de políticas protecionistas e o avanço de governos negacionistas — como o de Donald Trump nos Estados Unidos — dificultam o consenso internacional. O Brasil, anfitrião da COP, tenta equilibrar o papel de mediador político com a urgência de apresentar resultados concretos em casa.
Entre os principais desafios, estão a construção de um acordo sobre o novo financiamento climático global pós-2025, o avanço das metas de redução de emissões até 2035 e a criação de um mecanismo mais robusto de compensação florestal. O país aposta em transformar a Amazônia em vitrine da economia verde, mas enfrenta contradições internas — como o impasse sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
Propostas brasileiras em debate
No artigo, Lula reafirma o compromisso do governo com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), iniciativa que pretende atrair recursos públicos e privados para a conservação ambiental com base em um modelo de investimento de longo prazo, e não em doações pontuais. A proposta, apresentada recentemente pelo Itamaraty, busca consolidar o Brasil como referência em soluções financeiras inovadoras para a proteção das florestas tropicais.
O presidente também reforça que o país foi um dos primeiros a divulgar sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para 2035, alinhando metas de desmatamento zero, expansão de energias renováveis e transição justa para populações afetadas por atividades de alto impacto ambiental.
Da ECO-92 à COP da Amazônia
Lula faz ainda um resgate histórico das negociações climáticas, comparando a COP30 à ECO-92, realizada no Rio de Janeiro há mais de três décadas. “Foi ali que o mundo aprovou convenções e princípios que moldaram a política ambiental moderna. Agora, cabe a nós provar que esses compromissos podem sair do papel”, escreveu.
Desde então, lembra o presidente, houve avanços significativos — do combate ao desmatamento à meta de triplicar a capacidade global de energia renovável —, mas ainda insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C, como estabelece o Acordo de Paris.
Transição energética e Petrobras
Sem citar diretamente a exploração na foz do Amazonas, Lula tenta reposicionar o papel do petróleo dentro da agenda de transição. Defende que as receitas geradas pelo setor devem financiar a migração para fontes limpas e a modernização da Petrobras. “Com o tempo, as empresas petrolíferas, inclusive a Petrobras, se tornarão empresas de energia. O crescimento baseado em combustíveis fósseis não é sustentável”, afirmou.
Justiça climática e governança global
O texto termina com uma defesa do multilateralismo, da reforma do Conselho de Segurança da ONU e da criação de um fórum climático permanente dentro das Nações Unidas. Lula argumenta que o combate à crise climática precisa andar de mãos dadas com a redução da desigualdade. “Os setores mais vulneráveis são os que mais sofrem com os impactos das mudanças climáticas. Nossos planos de adaptação devem priorizar a justiça social.”
Para o governo brasileiro, a COP30 será o grande teste de credibilidade da diplomacia ambiental — tanto para o país quanto para a própria governança global. Em Belém, o Brasil tentará provar que a transição verde pode nascer no coração da Amazônia — desde que haja, como insiste o presidente, menos retórica e mais ação.