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‘Maior desafio da direita é a união’, diz vencedor do ‘Oscar’ da consultoria política

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BRASÍLIA – Fundador do Instituto Pesquisa Alfa Inteligência e vencedor, este ano, do Napolitan Awards, o “Oscar” da consultoria política, o pesquisador Emanoelton Borges avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem ligeira vantagem sobre seus opositores na eleição do ano que vem, mas aponta maior engajamento entre eleitores de direita.

“O maior desafio da direita hoje é a união. Quando a gente olha essa esquerda unificada e a direita fragmentada, a preço de agora, eu enxergo uma ligeira vantagem do presidente”, afirmou.

Em sua trajetória, Emanoelton atuou como consultor estratégico de nomes como João Doria, em São Paulo (SP), e João Henrique Caldas (PL), em Maceió (AL). Ao Estadão/Broadcast, o consultor compartilhou algumas descobertas e percepções de pesquisas do instituto que dirige sobre cenários para 2026.

Segundo ele, em que pese a importância da economia para a decisão do eleitor, “a grande agenda do brasileiro hoje é a segurança pública”, não só nos grandes centros urbanos. “É o domínio das facções, inclusive em cidades pequenas, de médio porte.”

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

O presidente da Câmara, Hugo Motta, já que vê Lula com força na eleição de 2026, e a direita mais desorganizada. Você vê o mesmo cenário?

Eu tenho uma análise parecida em algum ponto. O maior desafio da direita hoje é a união. Se olharmos os principais atores, Bolsonaro (ex-presidente Jair Bolsonaro), hoje, não teria condição legal de disputar o cargo. Tarcísio (governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas) é uma incógnita, se ele vai ficar no governo, se ele vai sair. Nós temos mais três expoentes: Ronaldo Caiado (governador de Goiás), Ratinho Jr. (governador do Paraná) ou até o Romeu Zema (governador de Minas Gerais). Recentemente, farpas foram trocadas entre Caiado e Ciro Nogueira, presidente do PP. Então, quando a gente olha o desalinhamento nessa faixa ideológica, acho que o maior desafio, de fato, é isso. Quando a gente observa o outro lado, Lula vai tentar seu quarto mandato com a esquerda totalmente unificada em seu nome. A gente não pode subestimar a inteligência política e a força eleitoral do próprio Lula, tendo em vista que vai tentar o quarto mandato e conseguiu também eleger a sucessora e reelegê-la. A gente está falando de vitórias eleitorais dos últimos 23 anos, com a interrupção do mandato-tampão do Temer e a própria eleição de Bolsonaro. Mas, quando a gente olha essa esquerda unificada e a direita fragmentada, a preço de agora, eu enxergo uma ligeira vantagem do presidente. Quem está à frente de cargos majoritários tem a famosa caneta, consegue efetivamente na prática entregar à população aquilo que tem maior apelo, seja eleitoral, seja também do ponto de vista de demanda social.

O governo Lula foi melhor ou pior se comparado aos seus governos anteriores?

Acho que o brasileiro tem feito uma avaliação muito do ponto de vista emocional e menos racional. Quando a gente observa, por exemplo, uma melhora na avaliação do governo, ela é uma melhora do ponto de vista do eleitor emocional, tendo em vista o tarifaço. Lula apertou um botão na cabeça de uma parcela dos brasileiros, ao ativar o instinto primitivo de defesa do território. Então, ele reativa o elo emocional com essa parcela do eleitorado que tende a ter uma avaliação mais morna do Lula. O próprio Eduardo Bolsonaro (deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro) faz falas que ajudam bastante o próprio Lula. Efetivamente, não tem uma grande entrega, um grande programa entregue nos últimos meses. Pelo contrário, o que a gente vê é um funcionamento normal da máquina federal como um todo, mas não tem aquele gol de placa ao qual a gente vai vincular uma melhora da aprovação.

O pesquisador Emanoelton Borges, fundador do Instituto Pesquisa Alfa Inteligência, analisa cenários para as eleições de 2026
O pesquisador Emanoelton Borges, fundador do Instituto Pesquisa Alfa Inteligência, analisa cenários para as eleições de 2026

Lula tem mesma capacidade que Bolsonaro tem de mobilizar pessoas?

Eles têm composição de imagem totalmente diferente um do outro. Obviamente, Bolsonaro pegou um vácuo em um movimento social a partir da Lava Jato e se cacifou. Tanto é que, de deputado federal, tornou-se presidente da República, e o próprio Lula não pôde disputar naquela ocasião. Então, Bolsonaro, sim, tem no seu DNA uma mobilização mais forte, até porque o eleitor mais à direita é um eleitor muito mais engajado do que o eleitor mais à esquerda. Lula vem no oposto, muito mais para atingir uma camada maior da sociedade, o mais vulnerável. Os programas sociais atingem uma parcela que é menos ativa, menos engajada do que a parcela que Bolsonaro atinge. É como se esses eleitores de Bolsonaro fossem muito mais proativos, fizessem mais barulho.

A direita é mais forte hoje no Brasil do que a esquerda?

Não. Se a gente olhar um pouco entre direita e esquerda, o que a gente vê, de fato, é uma polarização. Na última pesquisa que nós fizemos, a gente perguntou o seguinte: em quem você votou para presidente em 2022? Para o eleitor de Lula, havia uma segunda pergunta: você votou em Lula porque é o melhor para o País, ou para que Bolsonaro não ganhasse? 30% dos eleitores de Lula votaram para que Bolsonaro não ganhasse. E a mesma pergunta para Bolsonaro: 75% dos eleitores de Bolsonaro votaram porque achavam que ele era o melhor, e 25% votaram para que Lula não ganhasse. Então, quando a gente olha de 30% de rejeição a um, 25% de rejeição a outro, eu diria que o País está extremamente dividido entre as questões ideológicas. Entretanto, se você perguntar quem faz mais barulho, com certeza a direita faz muito mais barulho do que a esquerda.

O quanto a palavra do Bolsonaro é determinante para definir a situação da direita no ano que vem?

Eu não acho que a palavra tem determinação para definir. Já em 2024, nas eleições municipais, houve muitos candidatos, onde as regiões são à direita ou mais ao centro, em que o candidato de Bolsonaro não vingou. Do mesmo jeito, se formos a locais onde a esquerda tem muita força, por exemplo, no Nordeste, nós vamos ter também prefeitos que, mesmo com o apoio de Lula, não sofreram o efeito de forma eleitoral. Então, o brasileiro está muito acostumado a uma eleição majoritária. Um cabo eleitoral vai ter um poder de transferência de 20 pontos até 25 pontos, que não é suficiente para eleger. É suficiente para dar uma largada. Entretanto, quando um candidato se vincula demais a um padrinho eleitoral, ou seja, a tendência é que ele esqueça, de fato, dos outros temas que vão formar a sua imagem. Efetivamente, eu acho que, inclusive, se Bolsonaro não conseguir efetivamente se livrar de todas as penalidades que estão já impostas a ele, até para a gravação de conteúdo para um afiliado político vai ser complicado.

Quanto o tema econômico pode aparecer na eleição?

A economia pauta desde sempre. A pauta econômica vem de forma muito forte na vida do brasileiro. Hoje em dia, a economia e a segurança pública estão umbilicalmente interligadas. Nós fizemos uma pesquisa recentemente, em que 63% do público pesquisado afirmou que os alimentos aumentaram de preço, todos eles. Na prática, todos aumentaram? Não. Alguns, sim. A percepção que se tem é de que se aumentou efetivamente. Então, uma coisa é a pauta econômica técnica, a inflação, os juros e tal. De fato, a população está percebendo. Se a gente for olhar, por exemplo, a Selic, que ficou nesse patamar, o próprio mercado de financiamento imobiliário dá uma esfriada. Mas, quando a gente olha a inflação como um todo, ela está efetivamente mais controlada. Então, assim, a economia é: como eu vou conseguir traduzir na ponta isso aí para o eleitor? Mas eu diria que a grande agenda do brasileiro hoje é a segurança pública. É o domínio das facções, inclusive em cidades pequenas, de médio porte.

Você acha que Lula consegue criar maioria no Congresso?

É uma pergunta difícil de responder, mas vai depender de dois fatores. Nas cidades de grande porte, onde o voto proporcional para deputado federal é um voto de imagem, é um voto de recall, eu diria que a direita tende a ter um resultado bastante interessante. Nas cidades menores, médias e pequenas, acredito que quem estiver mais alinhado ao governo federal tende a ter mais sucesso. Nesses grandes centros, a direita tende a eleger mais nomes. E, no restante dos municípios, acho que a esquerda, por uma questão estrutural de entregas de benefícios, tende a eleger também.

Qual a situação atual do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)?

Acho que o Tarcísio conseguiu um feito inédito, que foi destronar o PSDB do Estado de São Paulo. Tarcísio foi eleito em cima de uma multidão extremamente polarizada e emocional. Do ponto de vista dele, São Paulo tem muitas entregas, muitas obras e muitas ações. Com a articulação do (presidente nacional do PSD, Gilberto) Kassab, o PSD hoje tem a maioria das prefeituras no Estado de São Paulo. Mas, do ponto de vista da força do Tarcísio, vai depender de como o eleitor vai estar conectado. Ele, obviamente, é o nome mais cobiçado da direita. Se o eleitor for para uma eleição pragmática, ou seja, me mostre o que você fez que eu vou acreditar em você, Tarcísio efetivamente também vai vir forte. Mas, de todo modo, quer queiramos ou não, três anos de mandato de governador é pouco tempo para ter esse grande portfólio de obras. Se o eleitor for para uma eleição emocional, independentemente do nome, só por representar aquela faixa, Tarcísio poderia juntar as duas coisas.

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