Oito estratégias da ciência para vencer o câncer

Oito estratégias da ciência para vencer o câncer

Diversas inovações na medicina têm trazido perspectivas esperançosas no combate à doença; Oncologistas comentam sobre as alternativas no horizonte e aquelas que já estão mudando o curso dos tratamentos oncológicos, com aumento nos índices de cura e qualidade de vida dos pacientes

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Oito estratégias da ciência para vencer o câncer
Diversas inovações na medicina têm trazido perspectivas esperançosas no combate à doença; Oncologistas comentam sobre as alternativas no horizonte e aquelas que já estão mudando o curso dos tratamentos oncológicos, com aumento nos índices de cura e qualidade de vida dos pacientes

Nos últimos 20 anos, com o avanço nas pesquisas em engenharia genética e conhecimento tecnológico, as perspectivas para quem é diagnosticado com câncer mudaram drasticamente em comparação aos pacientes de tempos atrás. Inovações como a imunoterapia, terapias-alvo, dentre outras, têm contribuído não só para a cura de diversas pessoas, mas também na melhoria da jornada de tratamento, aumentando a qualidade de vida de quem precisa passar pelos processos oncológicos.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são estimados 704 mil novos casos da doença para cada ano do triênio 2023-2025. O câncer de pele não melanoma é o mais incidente no país, com 220 mil novos casos estimados. Considerando-se todos os demais tipos de câncer, os mais frequentes na população serão mama (73.610 casos), próstata (71.730 casos), cólon e reto (45.630 casos), pulmão (32.560 casos) e estômago (21.480 casos).

Do ponto de vista global, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 19 milhões de pessoas foram diagnosticadas no ano passado com algum tipo de tumor e foram registrados cerca de 10 milhões de óbitos por câncer em todo o mundo. Uma realidade que traz impactos não apenas para a saúde, como também para os cofres públicos: o câncer gerará custos à economia superiores a US$ 25,2 trilhões (mais de R$ 125 trilhões) entre 2020 e 2050, de acordo com uma pesquisa publicada no final de fevereiro pela revista científica JAMA Oncology. Esses valores englobam custos associados a mortes e doenças relacionadas ao câncer, como despesas com tratamento, perdas de trabalho, produtividade, desemprego e capital reduzido, entre outros. O estudo foi baseado em 29 tipos de tumores em 204 países, abrangendo cerca de 99% da população mundial.
 

"Por esses motivos, avanços precisam ser feitos em todas as áreas: na prevenção quando ela é possível, é claro, e no acesso a tratamentos mais precisos. De fato, com o avanço no conhecimento genômico vivemos uma nova era. Ainda temos muito para caminhar e descobrir, afinal, o câncer é uma doença muito complexa e diversa, mas vemos avanços muito importantes em todas as etapas, com inovações desde o diagnóstico, com maiores chances de cura e melhora nos prognósticos, passando pelo tratamento cada vez mais individualizado e chegando no pós, com bons índices ligados à redução de efeitos colaterais. São pessoas que estão tendo suas vidas mudadas para melhor", explica o oncologista Carlos Gil Ferreira, diretor médico do Grupo Oncoclínicas e presidente em exercício da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

1.Análise Genética
Base de todos os avanços recentes na oncologia, os estudos envolvendo o genoma humano se tornaram parte indispensável tanto na precisão diagnóstica, quanto na eficácia do tratamento. "O entendimento das alterações moleculares nos permitiu desvendar mutações em células que levam ao surgimento de tumores malignos, impulsionadas não apenas por mutações hereditárias como também aquelas causadas por fatores ambientais e/ou relacionadas a hábitos de vida, como tabagismo e sedentarismo", explica Carlos Gil.
 

Os estudos pautados pelas descobertas nos mecanismos genéticos do câncer permitem a avaliação precisa dos tumores em laboratório: com isso, é possível não só testar novas drogas e tratamentos, mas obter um entendimento molecular profundo. Assim, hoje é possível saber como cada tipo de tumor se comporta e elaborar estratégias terapêuticas mais assertivas, o que tem aumentando a sobrevida e qualidade de vida de diversos pacientes. "Nos últimos anos, graças às possibilidades trazidas pelo que chamamos de oncologia de precisão, surgiram terapias direcionadas que vão agir diretamente sobre esse alvo. Cada vez mais, o combate ao câncer é individualizado, voltado para cada tipo de mutação e pessoa", enfatiza o médico.

Ao gerar informação personalizada em nível molecular, é possível não somente promover tratamentos mais assertivos, mas também gerar dados que promovam economia aos serviços de saúde nas redes pública e privada.

2. Biópsia Líquida

Na linha da busca por métodos diagnósticos cada vez mais precisos, a biópsia líquida figura como grande destaque entre os avanços. Feita a partir de uma amostra de sangue, o procedimento minimamente invasivo tem aberto portas tanto para definir os cursos do tratamento ou ainda seu monitoramento.

Rodrigo Dienstmann, Diretor Médico da Oncoclínicas Precision Medicine (OCPM), explica a diferença desse tipo de procedimento para o método tradicional: o exame mais avançado analisa o DNA tumoral livre no plasma, enquanto a biópsia tradicional faz isso no DNA tumoral no bloco de parafina, a partir de um fragmento do tumor. "A grande vantagem é que a biópsia líquida consegue detectar alterações oriundas de qualquer lesão tumoral do organismo, dada a presença de DNA tumoral na corrente sanguínea. De forma precisa e segura, a técnica torna possível identificar as informações que determinam o perfil da doença, seu tipo histológico e o grau de malignidade sem a necessidade de expor o paciente a procedimentos cirúrgicos", diz o oncologista, que também atua como pesquisador do grupo Oncology Data Science no Vall d'Hebron Institute of Oncology (Espanha).

 

Não à toa, a técnica já vem sendo usada para diminuir o número de exames invasivos de biópsia e acompanhamento de pessoas que já passaram por tratamento para monitoramento. "Em um futuro próximo, a expectativa é que, de fato, possamos conseguir acompanhar o pós tratamento apenas com exames de sangue", pontua Rodrigo Dienstmann.
 

3. Organoides

A ciência traz também respostas importantes para definição de condutas terapêuticas por meio de técnicas avançadas de engenharia genética. Em linha com esse entendimento, já é possível recriar pequenas estruturas em laboratório que imitam o comportamento das células cancerígenas e realizar avaliações que apontam para a efetividade de medicações no controle da condição. Chamadas de organoides, elas funcionam como "réplicas" do tumor e seguem a mesma premissa adotada em outras frentes da medicina para a criação de tecidos e órgãos humanos, como coração e pulmão, por exemplo.

"A partir desse conhecimento científico avançado, podemos hoje desenvolver em laboratório um organoide tumoral gerado a partir das células doentes específicas de cada paciente e testar as respostas a diferentes alternativas terapêuticas. Com isso, conseguimos recomendar o medicamento mais eficaz para cada caso, proporcionando assim uma abordagem médica personalizada e que garante a recomendação de procedimentos que serão mais eficazes de acordo com as especificidades da doença daquele indivíduo", resume Mariano Zalis, Diretor de Genômica da OCPM.

Baseado nessa tecnologia, um teste para a avaliação da precisão terapêutica de diferentes opções de medicação para casos de câncer metastáticos e que não respondem de forma positiva aos protocolos de tratamento recomendados já está disponível no Brasil. Chamado de Onco-PDO, ele reproduz modelos 3D in vitro das células do tumor e avalia em laboratório suas características e sua sensibilidade quanto à resistência aos agentes terapêuticos. "O teste tem como função auxiliar o oncologista na tomada de decisão sobre a melhor escolha de medicação para o paciente, já que mostra quais as drogas mais efetivas para cada caso. Isso permite estreitar melhor a linha de tratamento, com maiores chances de sucesso e, principalmente, uma qualidade de vida muito melhor para o paciente", complementa Carlos Gil.

4.Terapias alvo moleculares

Parte da primeira geração de novas estratégias de combate ao câncer pautada pelo conhecimento genômico, as terapias-alvo conquistam cada vez mais espaço nas condutas oncológicas. De forma simplificada, esse tipo de medicação promove um ataque direcionado às moléculas essenciais para o funcionamento das células cancerígenas, impedindo a expansão da doença. Ao identificar e combater as características específicas das células cancerígenas, bloqueando assim o crescimento do tumor, ela oferece ferramentas para que o organismo do paciente recupere as condições para derrotar o inimigo.

"As terapias-alvo se mostram cada vez mais eficazes e são boa notícia para os próximos anos. Elas atuam como mísseis teleguiados, especificamente desenvolvidos para atingir os genes e as proteínas envolvidos no crescimento e na sobrevivência das células cancerosas de determinado tumor, o ambiente em que se localiza o tecido que ajuda o câncer a crescer e a sobreviver ou apenas as células tumorais. Ao mesmo tempo, as células saudáveis são poupadas e preservadas", frisa Clarissa Mathias, oncologista do Grupo Oncoclínicas.
 

Os resultados na adoção desses medicamentos têm se mostrado relevantes, principalmente para tumores de mama e de ovário, além de trazer boas perspectivas para câncer de pulmão, tireóide, rim, pele, melanoma, sarcoma, fígado, cólon, reto, leucemias e linfomas.
 

5. Imunoterapia

Um dos protagonistas dessa nova era de combate ao câncer, a imunoterapia tem como princípio fundamental estimular o organismo a combater a doença de forma proativa. Ela funciona oferecendo ferramentas para que o sistema imune, responsável no combate à doenças, enxergue essas células anormais e passe a destruí-las. Isso se dá por meio de medicamentos orais, injetáveis ou tópicos (pomadas) que estimulam a produção de citocinas (moléculas de proteína que agem contra as células cancerosas). O prognóstico é melhor nos pacientes cujos tumores possuem o revestimento de células imunes chamadas linfócitos infiltrantes no tumor (LIT).
 

Segundo Carlos Gil, o procedimento tem sido revolucionário para diferentes tipos de câncer, com resultados importantes contra tumores de pulmão, pele melanoma, colorretal, mama, bexiga, ovário, próstata e outros. "A imunoterapia é um enorme avanço para o tratamento do câncer, que é uma doença muito complexa. Para que essa terapia funcione, o diagnóstico precisa ser individualizado e preciso. Conhecendo as células cancerígenas, as medicações vão agir para fortalecer o sistema imunológico que combate aquele mal especificamente. Ou seja, o caminho passa a ser o fortalecimento do sistema de defesa do corpo do próprio paciente. Esse tratamento focado aumenta as chances de sucesso e qualidade de vida", argumenta.

6. Car-T

A terapia gênica é baseada em células T de receptores de antígenos quiméricos (do acrônimo em inglês CAR), o que deu origem ao nome CAR-T. A alternativa terapêutica consiste em usar células do próprio paciente e geneticamente modificá-las em laboratório para combater o câncer. Desta forma, se tornou possível habilitar células de defesa do corpo com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.
 

"São drogas que, assim como a terapia celular, manipulam o sistema de defesa do paciente, atuando em níveis distintos para uma melhor resposta terapêutica do paciente. O Car-T é uma nova modalidade de tratamento que, pela sua importância, insere-se como um novo pilar na jornada de tratamento do paciente, junto com a cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Nesse caso, no entanto, ela oferece uma resposta mais específica, pois trabalha de forma personalizada, guiada para tratar aquela célula, aquele câncer, aquela mutação, e não apenas de uma maneira geral, em todo o corpo", comenta Renato Cunha, hematologista e líder do programa de Terapia Celular do Grupo Oncoclínicas.
 

Essa opção já vem sendo usada para tipos específicos de tumores hematológicos, mas há bons indicativos de que os avanços nas pesquisas em tumores sólidos sinalizem para a ampliação cada vez maior da adoção da técnica para diversos tipos de câncer.

7.Vacinas
Amplamente comentadas por seu uso contra a covid-19, os medicamentos desenvolvidos à base de RNA mensageiro (mRNA) vêm recebendo destaque como uma evolução que pode trazer respostas importantes para o tratamento de diferentes tipos de tumores malignos. E apesar das vacinas oncológicas ainda estarem em fase de pesquisa, alguns estudos mostrando a eficácia da técnica já animam a comunidade médica. Um deles foi publicado no início de 2023 pela revista Science Translational Medicine e mostrou sucesso no tratamento e prevenção do glioblastoma - um tipo agressivo de câncer cerebral, com altas taxas de letalidade.
 

Para a sua aplicação contra o câncer, contudo, há um fator essencial de diferenciação que não pode ser desconsiderado quando pensamos na adoção dessa solução: enquanto o processo da vacina de mRNA contra a covid-19 permite que ela seja adotada de forma massiva para toda a população de maneira preventiva, para o câncer ela está sendo usada para geração de drogas personalizadas para pessoas já diagnosticadas com tumores.
 

"Sob a ótica da ciência, as vacinas com um código genético de RNA criado em laboratório de fato acenam para um futuro com boas alternativas para tratar o câncer. A tecnologia de vacinas para uso na oncologia não seria capaz de evitar o surgimento de tumores, mas sim favorecer o desenvolvimento de medicações personalizadas para pessoas já diagnosticadas com a doença. Ou seja, adaptada de forma altamente individualizada a partir das especificidades do genoma das células cancerosas de cada paciente", resume Carlos Gil.

8. Cirurgia Robótica
Novos procedimentos cirúrgicos impulsionados pelos avanços tecnológicos também sinalizam para melhora na qualidade de vida dos pacientes. Segundo o urologista especializado em cirurgia robótica André Berger, líder da especialidade de uro-oncologia do Grupo Oncoclínicas, o uso de robôs cirúrgicos pode ser indicado para a retirada de tumores tanto em fase inicial como aqueles localmente em estágio mais avançado, e também os tipos metastático e recorrente. Isso possibilita um cenário mais otimista para o paciente, com incisões mínimas, menos dor e sangramentos, recuperação mais rápida e benefícios estéticos, além de promover maiores chances de eliminar por completo o câncer.
 

A técnica já vem sendo amplamente utilizada para tumores como próstata, bexiga, rim, pulmão, tireoide, endométrio, reto, nos gânglios linfáticos e alguns tipos de tumores pediátricos sólidos. "Em linhas gerais, a cirurgia robótica é um procedimento minimamente invasivo assistido por um equipamento composto por braços mecânicos totalmente articulados e microcâmeras de alta definição. Comandado por um cirurgião especializado na técnica, ele potencializa a capacidade do médico, possibilitando maior destreza na manipulação dos instrumentos e melhor visibilidade através de imagens em alta resolução", sintetiza.

A tecnologia 3D é capaz de ampliar em até 12 vezes a imagem durante a operação, garantindo a possibilidade de observar pequenos detalhes que não seriam facilmente perceptíveis a olho nu. "Essa precisão do equipamento transforma qualquer movimento que o cirurgião faça em movimentos muito menores e mais precisos na máquina, reduzindo inclusive tremores. Além disso, o robô reproduz e permite maior amplitude de alguns movimentos das mãos dos cirurgiões. Com isso, passamos a desenvolver procedimentos inovadores para o tratamento de casos complexos, como a retirada de tumores, a preservação e a reconstrução de órgãos com alto nível de segurança e assertividade", finaliza André Berger.


Sobre o Grupo Oncoclínicas
A Oncoclínicas - maior grupo dedicado ao tratamento do câncer na América Latina - tem um modelo especializado e inovador focado em toda a jornada do tratamento oncológico, aliando eficiência operacional, atendimento humanizado e especialização, por meio de um corpo clínico formado por mais de 2.600 médicos especialistas com ênfase em oncologia. Com a missão de democratizar o tratamento oncológico, oferece um sistema completo de atuação composto por clínicas ambulatoriais integradas a cancer centers de alta complexidade. Atualmente possui 133 unidades em 35 cidades brasileiras, permitindo acesso ao tratamento oncológico em todas as regiões que atua, com padrão de qualidade dos melhores centros de referência mundiais no tratamento do câncer.

Com tecnologia, medicina de precisão e genômica, a Oncoclínicas traz resultados efetivos no acesso ao tratamento oncológico, realizando mais de 500 mil procedimentos no último ano (2022). É parceira exclusiva na América Latina do Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard, um dos mais reconhecidos centros de pesquisa e tratamento de câncer no mundo. Possui a Boston Lighthouse Innovation, empresa especializada em bioinformática, sediada em Cambridge, Estados Unidos, e participação societária na MEDSIR, empresa espanhola dedicada ao desenvolvimento e gestão de ensaios clínicos para pesquisas independentes sobre o câncer. A companhia também desenvolve projetos em colaboração com o Weizmann Institute of Science, sediada em Rehovot, Israel, uma das mais prestigiadas instituições multidisciplinares de ciência e de pesquisa do mundo, tendo Bruno Ferrari, fundador e CEO da Oncoclínicas, como membro de seu board internacional.
 

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