A arquiteta Rafaela Giudice detalha novas técnicas que tem auxiliado nas restaurações de espaços como mapeamento digital de estruturas e uso de drones para avaliar danos.
Com o desabamento do teto da Igreja de São Francisco, localizada no Centro Histórico de Salvador, que deixou uma pessoa morta e outras cinco feridas, a Defesa Civil de Salvador (Codesal), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem realizado vistorias em outras igrejas da cidade, sendo que 12 já foram interditadas por questões de segurança.
Casos como a tragédia na Igreja de São Francisco ligam um sinal de alerta sobre as estruturas desses patrimônios não só na capital baiana, mas em todo o Brasil, visando impedir que novos desabamentos venham a ocorrer.
Nesse contexto, a arquiteta e designer de interiores, Rafaela Giudice, especialista em obras rápidas e gestora do escritório BESPOKE DELA, explica os desafios enfrentados na preservação dessas edificações. “Nesses casos, com tantos anos, a ação do tempo, aliada a fatores climáticos como umidade e variações de temperatura, contribui para o desgaste de materiais como madeira e argamassa, prejudicando toda a estrutura. Por isso, é essencial a vistoria e manutenção regular, mesmo quando não há problemas aparentes: a ausência de inspeções e reparos periódicos permite que pequenos danos evoluam para danos maiores, como infiltrações e rachaduras, que podem levar a acidentes de grande gravidade. E a manutenção regular é algo que precisa ser feito não só em edificações antigas, mas em qualquer espaço construído, mesmo novo“, destaca.
A especialista reforça que, para garantir a reabertura segura e sustentável desses espaços, algumas medidas são necessárias, como a avaliação técnica detalhada, em que devem ser realizadas inspeções minuciosas para identificar danos estruturais e determinar as intervenções necessárias; uso de uma mão de obra capacitada, com profissionais especializados em técnicas de restauração; além da combinação de técnicas tradicionais e modernas, mantendo a autenticidade do ambiente, ao mesmo tempo em que garantem precisão ao projeto.
No caso da reconstrução do Museu Nacional, por exemplo, destruído com incêndio em 2018, foram utilizadas imagens feitas por drones e máquinas digitais, como o scanner 3D a laser, para criar uma espécie de maquete tridimensional do prédio. Essa imagem tridimensional ajudou na investigação da causa, bem como permite um melhor entendimento de toda a estrutura, fator que contribui para a restauração dos espaços.
“As tecnologias de escaneamento 3D ajudam a mapear os danos estruturais antes da restauração. Isso contribui bastante para que o processo de revitalização seja bem executado – tanto mantendo as características estéticas, quanto dando segurança na questão estrutural. Além disso, em áreas de difícil acesso humano, outro recurso é o uso de drones capazes de realizar a inspeção visual para avaliação de danos“, ressalta Rafaela Giudice.
No caso das igrejas de Salvador, sendo patrimônios históricos e culturais de grande relevância e com procura da população, uma forma de permitir o contato do público com o local de maneira mais rápida é realizar uma abertura controlada durante as obras, algo que foi feito, por exemplo, na restauração da Catedral de Santa Maria, na Espanha. Assim, seria possível a realização de visitas monitoradas em espaços já seguros para a população.
No entanto, é importante destacar: a implementação dessas estratégias requer um planejamento cuidadoso e comprometimento das partes envolvidas para a preservação do patrimônio histórico, assegurando às futuras gerações a possibilidade de apreciar essas edificações, que, no caso da capital baiana, guardam grande relevância não só histórica, mas religiosa.