Verônica Franco: Cortesã e Heroína

Verônica Franco: Cortesã e Heroína

Com a influência e articulação dessa que eu chamo de “heroína de Veneza”, Foram criadas duas casas de acolhimento a mulheres... Que tenhamos sua garra de nunca desistir, sua audácia de duelar com o machismo e a opressão, sua certeza de que somos capazes, sua marca de jamais ser esquecida.

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Verônica Franco: Cortesã e Heroína

Nascida em 1546, em Veneza na Itália, filha de Paola Fracassa e Francesco Franco, Verônica tinha três irmãos, todos dotados de uma educação de alto nível. Numa sociedade em que as “mulheres de bem” eram proibidas de estudar, de desenvolver dons artísticos e principalmente tolhidas de ter opinião.

Sua mãe havia sido o que eram chamadas de “cortigiana onesta”, ou “cortesã honesta”. Ao conhecer Francesco se casou e teve seus filhos, mas com a morte precoce de seu marido, precisou retornar ao ofício para sustentá-los. Temendo o mesmo destino a única filha mulher, a entregou em matrimônio aos 16 anos a um médico que a espancava e a humilhava constantemente, Verônica para preservar sua vida, o deixou, lhe restando à profissão de sua mãe, já que as mulheres eram proibidas de trabalhar, era o único ofício permitido a uma mulher daquela época, ser cortesã, ou honesta que eram cultas e frequentavam a alta casta da sociedade ou vulgar, que viviam em periferias.

Dotada de uma inteligência invejável, não demorou muito para a Cortesã se tornar uma das figuras mais influentes e poderosas. Enquanto as filhas imaculadas da alta casta passavam de propriedade de seus pais para propriedade de seus maridos, as “cortesãs honestas” podiam interagir com as pessoas, adquirir e gerir seus bens, contratar pessoas, debater questões político sociais, frequentar as bibliotecas (ambientes permitidos apenas a homens), publicar livros. Elas eram livres para expressar suas ideias e influenciar todo um meio. A reforma de Roma inclusive foi financiada exclusivamente com o dinheiro arrecadado pelas cortesãs, elas movimentavam o turismo e a economia como um todo.

Verônica era poetisa e ao ter seu primeiro livro publicado sofre um ataque de difamação por outro poeta, que descontente publica uma poesia a acusando de que teria sífilis, com a finalidade de arruinar sua carreira, ela então o desafia para um duelo de retórica e sai vitoriosa.  Uma das maiores diplomatas da história, ela reivindicava e influenciava leis em benefício aos mais humildes e as mulheres, como a proibição do abuso infantil, mas também publicava escritas enaltecendo aos nobres. Uma exímia articuladora política, a maior prova disso foi seu encontro com Henrique III, Rei da França, que declarou apoio a Veneza após uma estadia na casa da Cortesã que agora era a mais importante de toda Veneza.

No auge de sua carreira veio a peste negra, que a fez se afastar de sua Cidade, ao retornar se depara com as acusações da Igreja de que a peste teria sido um castigo de Deus a luxúria das Cortesãs, confiscando os bens de todas elas. Sem alternativa volta a seu ofício de origem, e enfim, quando retoma sua estabilidade financeira é denunciada a santa Inquisição por bruxaria pelo tutor de um de seus filhos, mais uma difamação por um homem que não suportava a importância de uma mulher perante a sociedade. Ela consegue com o apoio dos políticos locais o direito de fazer sua própria defesa sendo inocentada, mas tendo novamente tudo que tinha confiscado pela Igreja, ela morre aos 45 anos em estado de miséria, mas deixando um legado, uma mulher que não só marcou uma história, mas também definiu seu curso.

Com a influência e articulação dessa que eu chamo de “heroína de Veneza”, Foram criadas duas casas de acolhimento a mulheres. Uma que acolhia meninas que as famílias não tinham condições de pagar um dote e destiná-las a um bom casamento, elas facilmente seriam violentadas e se tornariam cortesãs, a própria Verônica patrocinou o dote de inúmeras dessas meninas e por não se tratar de uma Instituição Religiosa, elas podiam estudar e se dedicar a um futuro melhor. Outra Instituição foi de acolhimento a ex-cortesãs, mães solteiras e mulheres que tinham sofrido abuso.

Sei que um artigo é pouco pra definir e elucidar tudo que essa mulher representou, para a história de sua Cidade, seu País e para todas nós. Uma Heroína marginalizada, que sofreu com uma sociedade que se escandaliza com o protagonismo da mulher. Que tenhamos sua garra de nunca desistir, sua audácia de duelar com o machismo e a opressão, sua certeza de que somos capazes, sua marca de jamais ser esquecida.

 

Colunista:
Pâmela Mello 
@pamelamello_oficial

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