Síndrome dos Servidores Migrantes: Entre a Incompetência e o Apadrinhamento Político
Data de Publicação: 3 de janeiro de 2025 15:05:00 A população merece muito mais do que isso: merece servidores que sejam competentes, comprometidos e, acima de tudo, capazes de honrar a confiança depositada neles por toda a sociedade.
Síndrome dos Servidores Migrantes: Entre a Incompetência e o Apadrinhamento Político
Por Vinicius Mororó
Em pleno pós-eleição, um fenômeno curioso e preocupante se repete com uma frequência que já não surpreende mais os observadores da política municipal: servidores públicos que foram amplamente criticados por sua atuação em suas cidades de origem são “reaproveitados” em cargos de confiança em municípios vizinhos. Trata-se de um reflexo da prática conhecida popularmente como “santo de casa não faz milagre”, mas que levanta questões profundas sobre os critérios e as motivações por trás dessas nomeações.
Quando um servidor desempenha mal suas funções públicas em um município, é natural que a população questione sua competência ou, em casos mais complexos, sua autonomia para executar o trabalho. O dilema, no entanto, se intensifica quando esse mesmo profissional é acolhido por outro município, muitas vezes em posições de igual ou maior relevância. Assim, surgem interrogações inevitáveis: seria ele incompetente ou apenas vitimado pela dinâmica política local? E, ainda mais importante, o que leva gestores a aceitarem em seus quadros profissionais cuja reputação é amplamente questionada?
O que parece ser um dilema administrativo, na verdade, é uma janela para entender os meandros do apadrinhamento político. Cargos de confiança, como o próprio nome sugere, deveriam estar vinculados à confiança na capacidade de entrega e no compromisso com resultados positivos. No entanto, não raro, esses postos acabam se transformando em moeda de troca para retribuir favores de campanha ou garantir lealdades eleitorais. O currículo do profissional que deveria ser embasado na experiência e na competência é substituído por uma avaliação centrada na obediência e no alinhamento político.
Embora seja compreensível que, em trocas de gestão, muitos servidores sejam realocados afinal, a mudança é um reflexo natural do reordenamento administrativo , há uma linha ténue entre essa prática e a tolerância à mediocridade. É preciso distinguir entre o profissional que se adapta a novos contextos para seguir contribuindo com qualidade e aquele que, rejeitado pela população de origem, encontra abrigo em gestões que parecem mais interessadas em manter a rede de apadrinhamento do que em garantir eficiência administrativa.
A população, como sempre, fica à mercê dessas escolhas. Sem transparência nos critérios de nomeação, o cidadão comum se vê vulnerável a gestões que priorizam interesses privados em detrimento do bem coletivo. Uma solução possível passa pela exigência de maior publicidade e rigor nos processos de contratação, incluindo a divulgação dos currículos e resultados de cada servidor nomeado. Afinal, cargos de confiança não podem ser sinônimo de permissão para incompetência.
É hora de os gestores públicos repensarem o modelo de escolha de seus quadros. A máxima de que “santo de casa não faz milagre” não deve ser pretexto para perpetuar apadrinhamentos e falhas administrativas. A população merece muito mais do que isso: merece servidores que sejam competentes, comprometidos e, acima de tudo, capazes de honrar a confiança depositada neles por toda a sociedade.
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