Band é condenada a pagar R$ 50 mil por distorção no programa de Datena

Band é condenada a pagar R$ 50 mil por distorção no programa de Datena

Data de Publicação: 24 de setembro de 2024 15:52:00 A linha entre informar e entreter pode ser tênue, mas quando cruzada com o intuito de gerar audiência a qualquer custo, a verdade se torna a primeira vítima.

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Band é condenada a pagar R$ 50 mil por distorção no programa de Datena

Em junho do ano passado, um episódio transmitido pela TV Bandeirantes no programa Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena, ganhou os holofotes não só pela gravidade do crime relatado, mas também pelo sensacionalismo envolvido. O caso, que à primeira vista parecia mais um entre tantos que se acumulam na programação policial, acabou virando tema de disputa judicial, resultando na condenação da emissora a pagar R$ 50 mil ao Colégio Innovare, alvo de uma distorção dos fatos que, segundo a Justiça, visava aumentar a audiência.

A reportagem em questão descreveu um assalto com troca de tiros envolvendo bandidos e um investigador de polícia, e Datena, com seu tom incisivo e apelo dramático, afirmou que os tiros haviam ocorrido "na porta de uma escola". A imagem da fachada do colégio ao fundo reforçava a narrativa de que o crime havia colocado em risco crianças de até 10 anos. "Tiros na porta de escola acontecem com frequência", disse o apresentador, enfatizando a necessidade de maior segurança nas instituições de ensino.

Porém, como desvendado posteriormente no processo judicial, a verdade estava a 500 metros de distância. O crime, de fato, ocorreu, mas não em frente ao colégio, como sugerido, e sim em uma rua diferente. O impacto dessas palavras, no entanto, já havia sido sentido. Pais apavorados, crianças assustadas, e o nome da escola, até então preservado de tais associações, foi lançado ao público de forma irresponsável.

A advogada Gabriela Miramontes, representante do Colégio Innovare, foi clara ao destacar a tentativa de manipulação midiática. "O crime realmente ocorreu, mas dizer que houve troca de tiros em frente a uma escola infantil é muito sensacionalismo", declarou. Para ela, a distorção não foi apenas um erro, mas uma ação deliberada para atrair mais espectadores. A escola, que busca zelar pela segurança e bem-estar de seus alunos, viu sua reputação afetada por uma narrativa que, nas palavras do juiz Paulo Baccarat Filho, foi "dourada" para causar um impacto maior do que a realidade justificava.

A defesa da Band, por sua vez, argumentou que a reportagem se baseou nas informações fornecidas por autoridades locais, incluindo o chefe dos investigadores da delegacia. Segundo a emissora, o uso da expressão "na porta da escola" deveria ser interpretado de forma mais ampla, referindo-se às imediações do colégio, não literalmente à calçada ou ao pátio da instituição. Mas a tentativa de relativização não foi suficiente para convencer o juiz, que concluiu que a emissora distorceu os fatos com o objetivo de "espetacularizar" a notícia, inflando o risco para as crianças e distorcendo o contexto do crime.

O caso Band-Datena levanta questões fundamentais sobre a responsabilidade da mídia. Até que ponto a busca pela audiência justifica a moldagem dos fatos? Em uma sociedade onde a informação circula em tempo real, o papel dos veículos de comunicação torna-se mais sensível, exigindo um compromisso ético com a verdade. O jornalismo, quando pautado pelo sensacionalismo, pode causar danos irreversíveis. O episódio é um lembrete de que a verdade, por mais crua que seja, não precisa de enfeites ou exageros para ser contada.

A TV Bandeirantes, que ainda pode recorrer da decisão, enfrenta agora as consequências de sua escolha editorial. A sentença, além da indenização, é um alerta para todos os profissionais que lidam com a informação: a credibilidade não se constrói com distorções. Datena, por sua vez, hoje candidato à prefeitura de São Paulo, fica isento da condenação no processo, que recai exclusivamente sobre a emissora. Mas o impacto de sua retórica sensacionalista no episódio certamente ecoa além das telas.

A linha entre informar e entreter pode ser tênue, mas quando cruzada com o intuito de gerar audiência a qualquer custo, a verdade se torna a primeira vítima.

 

 

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