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Quem Assume Ser de Axé Diz Que É Um Chamado por Consciência e Coragem

Quem Assume Ser de Axé Diz Que É Um Chamado por Consciência e Coragem

Data de Publicação: 6 de novembro de 2024 23:08:00 É dia de lembrar que quem assume ser de Axé tem que dizer que é e dizer com orgulho e coragem.

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Quem Assume Ser de Axé Diz Que É Um Chamado por Consciência e Coragem

Por Vinicius Mororó Ogun Legi 

Estamos nos aproximando do Dia da Consciência Negra, um momento de reflexão e celebração, mas também de resistência e enfrentamento. Em meio aos eventos e discussões que marcam essa data, a questão da intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana ocupa, como sempre, um lugar fundamental. Afinal, quem é de Axé diz que é ou deveria dizer.

Vivemos numa era onde as informações estão ao alcance de um toque, onde basta uma simples pesquisa no Google para que qualquer um se informe sobre direitos e deveres. O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 208, é explícito: é crime escarnecer publicamente alguém por sua crença religiosa, impedir ou perturbar a prática de cultos, vilipendiar atos ou objetos de fé. Não há falta de informação. O que há é uma resistência, disfarçada ou assumida, que impede o cumprimento da lei. É a velha desculpa do “não sabia” que, em tempos digitais, já não cola.

Mas a intolerância religiosa não vive apenas nos extremos dos crimes explícitos. Ela habita os espaços cotidianos, se esconde em palavras não ditas, em silêncios coniventes e em posturas omissas. O exemplo mais claro? As câmaras municipais e as repartições públicas onde representantes do povo expõem abertamente suas crenças pessoais como se fossem a régua para toda a sociedade. O povo quer saber: e as outras religiões, quem as representa? Quem fala por elas? E, em particular, quem representa a religião do negro?

A questão de fundo é mais ampla. Não, as religiões de matriz africana não são “religião de preto”. São de todos aqueles que as escolhem, de qualquer cor ou origem. Mas a perseguição que sofrem é mais intensa justamente por serem oriundas do povo negro, trazidas ao Brasil pelos africanos escravizados, e não pelos colonizadores europeus. Daí a associação natural: a religião de matriz africana é parte do legado negro, do sangue e da história de quem sofreu e resistiu.

A intolerância também se manifesta, no entanto, quando o próprio povo de Axé se cala em meio aos preconceitos, escondendo-se para não perder privilégios ou para se alinhar a um poder que não os representa. Esse silêncio não é apenas covardia. É um apagamento ancestral, uma negação dos que vieram antes e lutaram para que a cultura de Axé sobrevivesse, mesmo nos tempos mais difíceis. A falta de posicionamento é uma forma de enfraquecimento que corrói de dentro para fora.

É preciso, então, uma autorreflexão. Somos rápidos em cobrar os outros, mas e nossa própria postura? Quem está em posição de influência seja em cargos públicos, seja em espaços de liderança deve se perguntar: estou usando meu poder para proteger e promover meu povo? Quem é de Axé e ocupa um espaço de poder tem que ser firme e dizer “basta”. Basta de apagar a presença e a voz dos meus iguais!

O momento exige coragem. O Dia da Consciência Negra não é apenas um dia de discursos ou de uma “moda” de hashtags. É dia de lembrar, com todas as forças, o compromisso com a verdade, com as raízes e com a comunidade. É dia de lembrar que quem assume ser de Axé tem que dizer que é e dizer com orgulho e coragem.

 

 

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